Uma citação portuguesa da segunda metade do Século XVIII:
«Ontem tive vários argumentos com o confessor de minha Mãe que sendo homem de infenito propósito e bom coração, está entestado das ideias vulgares a respeito dos filósofos modernos e não admite absolutamente nenhum príncípio honesto na aplicação, fora do que serve unicamente a salvação eterna. Tudo inuteliza: chama à Poesia, ciência dos pagãos; à Matemática, ciência de loucos, à Física, meios de estab’lecer nova religião enfim, pronostica que, daqui a dez anos, seguramente haverá alguma seita, ou uma total transtornação do Cristianismo. Esforçei-me inutilmente para provar que os filósofos, ainda que erravam em muitas coisas, não eram contudo incompatíveis com o Cristianismo sublime.»
(…)
«Pertendia tirar argumentos contra Newton e outros hereges da sua irreligião, e nunca pôde admetir o princípio de que, em matérias científicas, vale mais o dito de um sábio herege que o de um santo ignorante. Eis aqui os homens de maior juízo e de maiores luzes que por cá temos!»
Carta de Leonor Almeida de Portugal, futura Marquesa de Alorna a seu pai
Sim, o negrito é meu.
Vém esta citação a despropósito dos fanáticos criacionismos, dos intragáveis xaropes antidarwinicos, e dos inenarráveis denegadores da viagem à lua que parecem andar a multiplicar-se… parecem só, visto que normalmente andam é sempre à espreita de saltar cá para fora. É para verem que os trapos das situações mudam, mas a nossa figurinha mental mantem-se sempre igual.